segunda-feira, 14 de maio de 2007

2ª Mostra CurtaGrav

NOVA ATUALIZAÇÃO: O Jornal Século Diário (ES) publicou uma entrevista exclusiva com o diretor Gustavo Aicoli. Clique aqui!
NOVA ATUALIZAÇÃO: Leia a crítica sobre o filme "Incuráveis" logo abaixo.

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O Grav realiza sua 2ª Mostra CurtaGrav no próximo dia 23 de maio, às 20 horas, na Estação Porto, em Vitória. A sessão faz parte do "Cultura & Pensamento", evento que traz a Vitória diversos pensadores nacionais e internacionais. Na noite, será inaugurado o Projetor Itinerante (em película) do Cine Metrópolis. NÃO PERCA!

Esta edição da Mostra irá concentrar-se em produções do curso de cinema da Universidade Federal Fluminense, além de debater a obra do diretor Gustavo Acioli, que também traz ao Estado o seu primeiro longa, "Os Incuráveis" (foto), com Dira Paes.


Confira a programação (todos os filmes serão exibidos em 35mm):

RETROSPECTIVA GUSTAVO ACIOLI


CÃO GUIA 35mm, 1999, cor, 18 min
Direção e roteiro: Gustavo Acioli. Produção: Lara Valentina Pozzobon. Montagem e Edição de Som: Luiz Guimarães de Castro. Técnico de Som: Ricardo Prego. Elenco: Graciela Pozzobon, Bruce Gomlevsky.
Sinopse: Moça cega salva rapaz de atropelamento e assim iniciam conturbado relacionamento.

Premiações: Melhor Atriz, Ator e Roteiro, Festival de Brasília 1999; Melhor Atriz, Festival do Rio 1999, Melhor Atriz e Prêmio da Crítica, Festival de Curitiba 2000, Menção Especial do Júri, Festival do Uruguai 2000

NUMA NOITE QUALQUER 35mm, 2001, cor, 11min
Direção e roteiro: Gustavo Acioli. Elenco Graciela Pozzobon, Paulo Tiefenthaler. Fotografia Paulo Castiglioni. Edição Luiz Guimarães de Castro. Som Direto Giselle Lewick, Luiz Guimarães de Castro. Direção de Arte Felipe Muanis.

Sinopse: Numa noite qualquer, durante um apagão, revela-se o triângulo amoroso entre Jorge, Rita e seu bebê.
Premiação: Menção Honrosa no Festival de Cinema Universitário 2001


NADA A DECLARAR 35mm, 2003, cor, 9min
Direção e roteiro: Gustavo Acioli. Fotografia Paulo Castiglione. Roteiro Gustavo Acioli. Som Direto Luiz Eduardo Carmo. Direção de Arte Débora Butruce. Empresa produtora Lavoro Produções. Direção de produção Diego Catta Preta. Produção Executiva Lara Pozzobon. Montagem Alexandre Rocha.
Sinopse: Retrato da elite brasileira através de um artista em estado crítico.
Premiações: Melhor Filme no Festival de Recife 2004, Melhor Roteiro no Festival de Brasília 2003, Prêmio Cinemark no Festival do Rio 2004


MORA NA FILOSOFIA 35mm, 2004, cor, 9 min.
Direção, roteiro e música: Gustavo Acioli. Fotografia: Paulo Castiglione. Montagem: Alexandre Rocha e Gustavo Acioli. Som: Luis Eduardo Gomes. Direção de Arte: Débora Butruce. Elenco: Bruce Gomlevsky, Serjão Loroza, Roberta Rodrigues. Produtora: Lavoro Produções.

Sinopse: Através de uma colagem de diálogos de Platão, o filme constrói uma desconcertante parábola sobre o Brasil.


PANORAMA UFF

JONAS E A BALEIA 35mm, 2006 , cor, 19 min 30 seg
Direção, Roteiro: Felipe Bragança . Direção de Produção: Bia A. Porto . Fotografia: Andrea Capella . Câmera: Vladimir Mancaro e Andrea Capella . Técnico de Som: Ives Rosenfeld . Edição: Marina Meliande . Direção de Arte: Paula Gurgel. Elenco: Alberto Moura Jr. e Ingrid Conte .
Sinopse: Jonas tem uma moto, um par de sapatos e um revólver. Um dia, ele se apaixona. E mata um homem.

UMA ESTRELA PRA IÔIÔ 35mm, 2003, p&b, 15 min
Direção e roteiro: Bruno Safadi. Produção: Fernando Valle, João Caetano e Gabriela Carvalho. Fotografia e Câmera: Lula Carvalho. Montagem: Karen Black. Edição de Som: Alexandre Pereira. Arte: Moa Batsow. Elenco: Mariana Ximenes, Ivan Cardoso, Gustavo Falcão.

Sinopse: Uma Estrela pra Ioiô é um filme de amor, de esperança, que busca essencialmente o cinema e a tradição da imagem. Refigurada pelo tempo, transfigurada na luz, cenografia, mise-en-scène e concepção de planos.
Premiações: Melhor Filme no Festival Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira 2003; Melhor Filme no Júri Popular no CineEsquemaNovo - Festival de Cinema de Porto Alegre 2004, Prêmio Destaque em Contribuição Técnica no Festival Brasileiro de Cinema Universitário 2004


O NOME DELE (O CLÓVIS) 35mm, 2004, cor, 15 min
Direção: Felipe Bragança e Marina Meliande. Roteiro: Felipe Bragança. Produção: Andressa Camargo e Mário Azen. Fotografia: Andréa Capella. Câmera: Andréa Capella, Paulo Camacho, Daniel Neves, Mika Nobre e Vladimir Mancaro. Som: Ives Rosenfeld. Arte: Gustavo M. Bragança. Montagem: Marina Meliande. Edição de Som: Fernando Renna e Marina Meliande.
Sinopse: Se conheceram no verão, debaixo de chuva. Um filme de carnaval e silêncio.
Elenco: Sandro Ribeiro e Camila Monteiro.
Premiação: Premio Mejor Cortometraje de Escuelas de Cine, 23º Festival Cinematográfico Internacional del Uruguai, 2005

O BRILHO DOS MEUS OLHOS 35mm, 2006, cor/p&b, 11min
Direção e roteiro: Allan Ribeiro. Produção Executiva: Ana Alice de Morais. Fotografia: Pedro Faerstein. Câmera: Bia Marques e Daniel Bustamante. Arte: Paula Gurgel e Júlia Pina. Som: Rodrigo Maia. Edição: Allan Ribeiro. Edição de Som: Rodrigo Maia. Elenco: Marcelo Dias
Sinopse: Em busca de um momento prodigioso, para que faça algum sentido continuar vivendo.


*CRÍTICA SOBRE O FILME "INCURÁVEIS", DE GUSTAVO ACIOLI

Sobre o poder da luz Incuráveis: entre o discurso pela palavra e o discurso pela imagem

Publicado no Jornal Século Diário
Por Rodrigo de Oliveira, curador da 2ª Mostra CurtaGrav


Os jogos de poder sempre pareceram interessar Gustavo Acioli, já a partir de sua carreira no curta-metragem. Se Cão Guia e Numa Noite Qualquer tratavam diretamente da influência que um indivíduo pode exercer sobre o outro quando tem alguma vantagem sobre ele (no primeiro, uma mulher cega que é acossada por um homem que enxerga, no segundo a complexa relação de um pai que inveja a disponibilidade do seio de sua mulher para o filho recém-nascido), nos seguintes Nada a Declarar e Mora na Filosofia, o tabuleiro passa a ser macropolítico, e não é mais a relação dos indivíduos, mas seus espectros sociais e históricos, que estão em disputa.

Curioso que Incuráveis, seu primeiro longa-metragem, consiga equilibrar exatamente estas duas medidas anteriores. De um lado, temos a absoluta individualização da experiência humana: somos colocados na companhia de um casal formado aleatoriamente numa noite, e seguimos com eles durante todo o filme, trancados no mesmo quarto em que os dois vivem o acaso existencial com uma intensidade absoluta. Ali dentro, ele e ela se revezam nos postos de dominante e dominado, e todo o envolvimento estabelecido entre os dois é consciente deste jogo. Por outro lado, estamos também diante de duas figuras historicamente construídas, e já muitas vezes reunidas pela arte.

Um boêmio e uma prostituta, e a aura teatral de suas figuras não é tanto dada pela origem do texto do filme (baseado numa peça de Marcelo Pedreira), mas sim pela própria constituição memorial destes dois personagens, que incluem nesse jogo de poder também uma encenação de si mesmos, como se estivessem atuando um para o outro à medida que a noite avança e suas personalidades vagarosamente se revelam.

Mas, diferente de tudo o que já havíamos visto na obra de Acioli até agora, o poder existe como potência, mas nunca é propriamente exercido. Ele é, acima de tudo, um clima, um ambiente. O quarto é o tabuleiro, Fernando Eiras e Dira Paes são os peões, mas quem está vencendo o jogo? Todos, e ninguém. Em sua estrutura narrativa quase musical, Incuráveis lança um tema à mesa e, sutilmente, vai fazendo com que tanto o homem quanto a mulher assumam sua defesa e seu ataque, invertendo identidades e posturas ao longo da noite, de modo que nunca saibamos, exatamente, quais sentimentos pertencem a quem. Uma coisa só sabemos: a força, a decisão, o caráter imperativo, será sempre exercido por aquele que estiver iluminado pela forte luz branca dos postes da rua que invade o quarto através da janela, e no lado oposto, a fragilidade, a suscetibilidade, o caráter reflexivo, caberá a quem estiver iluminado pela lúgubre luz amarela que sai dos abajures toscos do lugar.

Assim, o poder não é um estado, mas um lugar, indefinido. Não é um pedaço da História, mas um espasmo de tempo, inconsciente e incomensurável. Incuráveis, teatral pelo verbo que é, assume sua encenação como um jogo de cinema, antes de tudo. Há sim uma instância dominante, e ela está fora do filme, com Gustavo Acioli e Lula Carvalho, seu diretor de fotografia, armando o palco com aquilo de que dispõem: luz e câmera, enquadramentos, movimentos, closes. Esse rigor na construção da imagem, no entanto, cede gentilmente seu espaço à completa franqueza que se estabelece na interação entre os dois personagens (e os dois atores, de talento espantoso), e se serve dela. Não à toa, naquele que talvez seja o plano mais bonito do filme, o que se vê é a completa confusão das experiências: sob a luz do amanhecer, Eiras e Paes se abraçam e dançam no quarto, e aí já não há mais luz branca ou luz amarela, plano fixo ou rigidez do foco. Jogada na deliciosa modorra das horas, a câmera de Incuráveis dança junto com seus personagens, e decide que o melhor poder a ser exercido dentro de um filme é o "poder estar junto".

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